Continuação da BIOGRAFIA de Manuel Bandeira
através de poema :
Evocação do Recife*
foto vista aérea do centro de Recife com o rio Capibaribe (no meio : ilha Santo Antônio)
Capiberibe
- Capibaribe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bana-
[nas com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões :
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi hà muito tempo ...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na lingua errada do povo
Lingua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nos
o que fazemos
é macaquear
a sintaxe lusiada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse !
Tudo là parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
Manuel Bandeira, Libertinagem, Edição do autor, 1930.
* é a continuação da primeira parte do meu artigo
"Biografiar-se com um poema "Recife" Manuel Bandeira"
OverBlog, Christian Leray, 24/03/2011
http://christianleray.over-blog.com